Design para sustentabilidade

14/11 Por Bruno dos Santos Pierosan

Apesar da harmonia entre o ser humano e o meio ambiente ser necessária desde os seus primórdios, a sociedade parece constantemente esquecer desta necessidade. Como já abordamos anteriormente, o estilo de vida atual leva o Planeta à exaustão. Para contribuir com um futuro mais ecoeficiente, surge o conceito de desenvolvimento sustentável. A ideia aparece pela primeira vez em 1987, abordando a capacidade de satisfazer as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das futuras gerações de satisfazer suas próprias necessidades.

O termo foi muito utilizado na conferência das nações unidas sobre Ambiente e Desenvolvimento de 1992 no Rio de Janeiro. Pela primeira vez foi reconhecido pelos governos mundiais sobre a urgência da questão, e que o padrão e rumos mantido por países desenvolvidos ou em desenvolvimento, de qualidade de vida baseada na disposição de itens de consumo em larga escala, é insustentável e precisa ser revista.

Em setembro de 2015, as Nações Unidas estabeleceram 17 objetivos para os países que fazem parte da organização, buscando guiar o desenvolvimento, nos 15 anos subsequentes, em uma direção sustentável.

Osobjetivos visam erradicar a pobreza, combater a desigualdade e a injustiça e corrigir as mudanças climáticas, são eles: erradicação da pobreza, erradicação da fome, saúde de qualidade, educação de qualidade, igualdade de gênero, água limpa e saneamento, energias renováveis, empregos dignos e crescimento econômico, inovação e infraestrutura, redução das desigualdades, cidades e comunidades sustentáveis, consumo responsável, combate às mudanças climáticas, conservação da vida debaixo da água e da vida sobre a terra, paz e justiça e, por fim, parcerias pelas metas. Juntos, os objetivos geram 169 metas.

Mas o que estas metas têm a ver conosco? De forma simplificada, não há como visualizar estas metas e não querer fazer parte deste mundo, onde há melhores condições para todas as espécies — do ser humano ao pequeno inseto. De forma ampla, estas metas podem servir como um guia para que nós, profissionais das áreas de design, comunicação, marketing e inovação, possamos contribuir de forma produtiva com o desenvolvimento sustentável.

Apesar desta visão nos dar o deslumbre de um mundo melhor, contudo, existem contradições sobre o termo “desenvolvimento”, que nos fazem repensar a questão. Economista e filósofo, Serge Latouche é um dos autores que me levou a questionar o conceito, ao comentar que o desenvolvimento é uma palavra tóxica, qualquer que seja o adjetivo com que o vistam.

O desenvolvimento ou crescimento são conceitos que tendem ao infinito, enraizado em todas as formas de governo e de forma desconexa ao ambiente, ignora a entropia do sistema e propõe um processo puramente mecânico e reversível, um sistema infinito em um planeta finito. Assim, governos e instituições mascararam os objetivos de conservação de lucros, evitando mudanças de hábitos e praticamente sem alterações de rumo, criando indústrias cujo objetivo é cavar novas demandas nos buracos deixados pelos impactos socioambientais, buscando remediá-los de forma aparente. A meta proposta pelo autor é, no entanto, a chegada, ou seja, o lugar que se deve buscar para atingir o que poderia ser chamado de sustentabilidade.

Contudo, o caminho a ser trilhado para chegar a este lugar é longo e, provavelmente, gerará diversos embates com grandes companhias e governos. Isso porque, conforme fica cada vez mais claro, para viver melhor, é preciso produzir e consumir de outra maneira, fazer melhor e mais com menos, eliminando, para começar, as fontes de desperdício e aumentando a durabilidade dos produtos. A obsolescência precisa ser deixada de lado, o consumo deve ser consciente. O combate às mudanças climáticas precisa ser realizado. Em pleno 2019, não devemos mais debater se a terra é plana ou não, se o efeito estufa e o aquecimento globais são reais.

Assim, trataremos da sustentabilidade como objetivo e, também, nas maneiras de projetá-la, procurando criar os caminhos de mudanças que busquem um consumo mais consciente e de sistemas que evitem o desperdício.

A sustentabilidade, portanto, é uma condição da qual as atividades de cada indivíduo não ultrapassem o seu respectivo espaço ambiental — quantidade de espaço e de qualidade de recursos necessários para viver, produzir e consumir sem ultrapassar os limites de resiliência da natureza e de seus ciclos — garantindo assim, não somente um ambiente estável, mas que os recursos que nos estão disponíveis estejam desta forma a todos, de forma análoga às gerações futuras, tornando, assim, a sustentabilidade uma questão tão social quanto ambiental.

A sustentabilidade deveria ser o meta-objetivo de todas as possíveis pesquisas em design, já que são os designers os atores sociais que lidam com as percepções de bem-estar e com as interações dos produtos a ela associadas. Os designers possuem os instrumentos necessários para trabalhar sobre a percepção de valor dos públicos, sua aceitabilidade e as qualidades dos artefatos produzidos, podendo, assim, direcionar a sociedade rumo às formas de vidas sustentáveis.

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